De uma experiência pessoal ao novo modelo de gestão, Duda Treuffar, diretora da GAEL, explica por que o autocuidado é essencial para a saúde da empresa.
O ambiente corporativo contemporâneo vive um ponto de inflexão. O foco unilateral na produtividade e em métricas de performance começa a dar lugar a uma visão mais holística, na qual o bem-estar e o desenvolvimento humano são reconhecidos como alicerces para o sucesso sustentável. A cultura interna de uma organização é seu pilar mais robusto, e a maneira como ela nutre seus colaboradores reflete diretamente em seu desempenho e longevidade.
Minha experiência com um período de burnout no ano passado serviu como um catalisador para reavaliar a urgência de priorizar o bem-estar e o autoconhecimento, inspirando a concepção de uma convenção que servisse como um pontapé inicial para um desenvolvimento além das métricas usuais de produtividade.
Passar pelo burnout, muitas vezes a manifestação final de uma cultura de produtividade implacável, me forçou a encarar a urgência de uma descompressão genuína, um momento do dia em que mente e corpo possam se desvencilhar da constante pressão. Nesse cenário, o resgate de um hobby e a adoção de práticas de autocuidado emergiram como antídotos poderosos. A concentração em uma tarefa física e criativa, como o bordado ou o crochê, acalma a mente, permitindo que os pensamentos se organizem e que o indivíduo se reconecte com um tempo próprio, longe das telas e do imediatismo.
A concepção de nossa recente convenção interna, em parceria com a área de RH, partiu da premissa de que a excelência profissional é inseparável do equilíbrio pessoal. Nosso objetivo era ir além das projeções financeiras e estratégicas, criando um espaço onde cada indivíduo pudesse se reconectar com seu propósito e com os colegas, fortalecendo a cultura da empresa em um nível mais profundo e autêntico.
Dinâmicas de autoconhecimento e conexão humana
Antes do início de qualquer dinâmica, a convenção foi ancorada na premissa de que o autoconhecimento é o ponto de partida para qualquer evolução. Acreditamos que um profissional só pode entregar seu melhor quando tem consciência de suas próprias necessidades e prioridades. Para fomentar essa introspecção, a convenção promoveu práticas de reconexão.
A “carta para o futuro” foi a ferramenta para tangibilizar o autocuidado e o planejamento de vida. Ao convidar os participantes a visualizarem seus objetivos para os próximos meses, a atividade reforçou a ideia de que o crescimento pessoal e profissional caminham juntos. O bordado de uma palavra-chave, que a princípio gerou resistência por desafiar a lógica da produtividade imediata, mostrou o poder da reconexão com a essência criativa e com o tempo presente, permitindo que os colaboradores se reconectassem com um lado de si mesmos que a rotina, por vezes, anula.
A “roda da vida” materializou o conceito de equilíbrio. Ao avaliar diversos pilares da existência (carreira, família, saúde, etc.), a dinâmica evidenciou que a performance de uma área está intrinsecamente ligada à harmonia de todas as outras. A visualização desse desequilíbrio é o primeiro passo para a mudança consciente.
Um dos momentos mais impactantes foi a dinâmica “olho no olho”. Em duplas aleatórias, os participantes foram convidados a manter o contato visual por três minutos, em silêncio. Em uma era de interações mediadas por telas, essa prática gerou reações que variaram do desconforto inicial a momentos de profunda emoção, validando a importância da conexão humana direta. O feedback unânime ressaltou a natureza “humana” da convenção, destacando a percepção de pertencimento e de que os colaboradores se sentiram verdadeiramente vistos pela organização.
Autocuidado e produtividade: respeitar os limites na cultura corporativa
A observação de que muitos indivíduos não priorizam o autocuidado, impulsionados por uma cultura de produtividade incessante, foi um insight crucial que se desdobrou em um novo olhar estratégico para a empresa. Essa despriorização leva a desequilíbrios significativos, que afetam diretamente a felicidade, a saúde mental e, em um paradoxo evidente, a própria produtividade. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de institutos de pesquisa no Brasil alertam para o crescimento alarmante dos casos de burnout, tornando a busca por soluções de descompressão uma necessidade urgente.
A prática de trabalhos manuais, como o bordado, demonstrou ser uma poderosa ferramenta para o “aterramento” e a reconexão. Pesquisas em neurociência apontam que a repetição de movimentos finos e a concentração em uma tarefa criativa ativam um estado de “flow”, que reduz o cortisol – o hormônio do estresse – e eleva o senso de realização. Essa experiência validou a necessidade de incentivar pausas e hobbies que proporcionem um contraponto real à natureza muitas vezes abstrata do trabalho digital.
Como desdobramento da convenção, a iniciativa inspirou os participantes a levarem as práticas de bordado e meditação para suas próprias vidas. Essa resposta orgânica validou a importância de oferecer um momento de introspecção e de reconexão.
Ao atuar como catalisadora dessa mudança de mentalidade, a GAEL demonstra que o autocuidado não é uma responsabilidade exclusiva do colaborador, mas um pilar estratégico da cultura organizacional que deve ser ativamente incentivado.
O poder do pensamento e da comunicação positiva no ambiente de trabalho
A abordagem da convenção também se estendeu à importância de cultivar uma mentalidade positiva e uma comunicação construtiva. A crença no poder do pensamento e da visualização, inspirada em estudos sobre neurociência e práticas de cocriação, fundamentou atividades que incentivaram os participantes a canalizar energia para o que desejam manifestar.
Essa filosofia se estende à comunicação interpessoal. Em um contexto social onde a crítica e a negatividade muitas vezes são amplificadas, ressalta-se o valor de palavras que elevam e constroem. Pequenos gestos de reconhecimento e elogios sinceros podem gerar um impacto transformador na vida de um colega, fortalecendo os laços e o ambiente de trabalho como um todo.
Para o futuro, a visão de continuidade nos investimentos em bem-estar interno é fundamental. O patrocínio de iniciativas internas não deve ser uma ação isolada, mas parte de um planejamento estratégico de longo prazo. Quando as áreas de Marketing, Sustentabilidade, RH e Comunicação atuam de forma coordenada, o investimento em cultura e bem-estar se integra à estratégia central da marca, potencializando o retorno e reforçando o papel da organização como um agente de transformação, tanto no mercado quanto na vida de seus colaboradores.
Pensar cultura e cuidado como intrínsecos ao negócio é, hoje, um diferencial competitivo e um imperativo para a construção de um legado duradouro.