Sua nostalgia vale uma fortuna e todo mundo quer um pedaço desse bolo, mas ninguém se esforça tanto por ele quanto o Disney+.

Lembrança de tempos mais simples? Temos!

Desde seu lançamento, o serviço de streaming da Disney apostou forte no passado. Ao invés de vir carregado de material novo e original e exclusivo (como fizeram as concorrentes Netflix, Amazon Prime Video e afins), o Disney+ traz um catálogo carregado de filmes e séries antigos, em um claro movimento de fisgar o consumidor com a isca quase inescapável da nostalgia.

Tem para todo mundo. De Branca de Neve e os Sete Anões, De Ilusão Também se Vive, Cinderela e Mary Poppins – para os mais velhos – até Monstros S.A., As Visões de Raven, Procurando Nemo, Kim Possible e High School Musical – para os jovens adultos nostálgicos – passando por tudo que foi produzido no meio do caminho. Existe uma produção da Disney que lhe remete a tempos melhores? Ela está no Disney+.

E essa estratégia funcionou brilhantemente. Já são mais de 73 milhões de assinantes ao redor do mundo, desde de lançamento internacional da marca em 2019.

Existem produções novas e originais no Disney+ (como a incensada The Mandalorian e um punhado de séries da Marvel), mas em número ínfimo perto quantidade de material, digamos, vintage. E, não por acaso, quase todas as novidades fazem parte de universos ficcionais com 10, 20, 80 anos de existência.

Nostalgia > Marketing

O termo nostalgia foi cunhado em 1688, pelo médico suíço Johannes Hofer, em uma tese de medicina baseada nos sintomas que Hofer observara em soldados suíços que encontravam-se longe de casa durante uma guerra. Hoje em dia, parece natural até para um leigo que um bando de homens, vivendo as privações do combate e distante de suas famílias pareçam um tanto desligados do presente, com a mente focada em lugares e entes queridos. Mas Hofer atribuiu esses pensamentos à doença que batizou de nostalgia, a partir das raízes gregas nostos (voltar para casa) e algos (dor).

Sim, nostalgia já foi uma “condição” a ser tratada com generosas doses de ópio.

Com o passar dos séculos, a nostalgia passou a ser vista como um sentimento inofensivo – desde que o indivíduo não passe a “viver” no passado – a ser explorado por marqueteiros de um modo geral. Desde o serviço de streaming repleto de boas lembranças, passando pelos especiais de Natal cobertos de neve que despertam a memória de ceias natalinas que vivemos no nosso abafado dezembro tropical, até aquele comercial de carro com aquela música que nos remete ao tempo em que éramos mais jovens e descolados como o veículo que estão nos vendendo.

E, de um jeito ou de outro, acabamos caindo nessa armadilha de forma recorrente. Mas por quê?

Produto nostálgico baseado na nostalgia engarrafada da nostálgica HQ Watchmen. É tanta metalinguagem que eu me perdi!

Trocando em miúdos, porque o presente sempre se apresenta cheio de problemas a resolver, contas a pagar, idiotas a suportar, enquanto o passado está lá, disponível para ser editado e consultado sempre que necessário, com um acervo – por menor que seja para algumas pessoas – de situações felizes, objetos de desejo e pessoas brilhantes. Visitar uma boa lembrança ativa o centro de recompensa do cérebro e pode nos tirar do tédio, da depressão e da ansiedade. Tudo que precisamos é de um gatilho: um cheiro, um lugar, uma sensação, um produto – quem não quer um calor no coração pronto para consumo? – ou, mais comumente, uma música.

Uma pesquisa de 2019, realizada no Reino Unido, perguntou aos entrevistados o que mais os deixava nostálgicos em cada década de 1950 a 2000. Para todas as décadas, a primeira colocação ficou com a música. Em alguns casos, bandas ou artistas específicos também apareciam no top ten. O caso dos anos 1990 é emblemático, além de colocar “música” em primeiro lugar, os britânicos destacaram Spice Girls (2º lugar), Brit-pop (3º) e Oasis (5º). 

A nostalgia é um sentimento universal que, de acordo com pesquisadores da Universidade de Southampton, ocorre pelo menos menos uma vez por semana em adultos. E, ao contrário do que indica o senso comum, não é coisa de velho. Esses mesmos pesquisadores detectaram que crianças de 7 anos tinham pensamentos nostálgicos com férias e festas de aniversário passadas.

Essa mesma pesquisa conclui que a nostalgia tem um função muito mais nobre do que nos levar ao consumo. Ao rememorarmos “os bons e velhos tempos” que, de fato, nunca existiram – os problemas da vida, do mundo, sempre estiveram lá, nós que talvez não tivéssemos vivência para percebê-los – nos permitimos perceber que tudo passa, que mesmo momentos negativos vão ficar para trás e alguma boa lembrança vai permanecer. A nostalgia nos permite perceber que a vida vale a pena, que há esperança.

Se você precisar ver O Rei Leão pela 28ª vez para que lhe caia essa ficha, vai fundo.

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